segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Esquizofrenia e Tratamentos


A esquizofrenia é um transtorno causado por diversos fatores biopsicossociais que interagem, criando situações, as quais podem ser favoráveis ou não ao aparecimento do transtorno. Os fatores biológicos seriam aqueles ligados à genética e/ou aqueles que são devidos a uma lesão ou anormalidade de estruturas cerebrais e deficiência em neurotransmissores. Os fatores psicossociais são aqueles ligados ao indivíduo, do ponto de vista psicológico e de sua interação com o seu ambiente social, tais como: ansiedade muito intensa, estado de estresse elevado, fobia social e situações sociais e emocionais intensas. Enfim, indivíduos com predisposição podem desenvolver a doença quando estimulados por fatores biológicos, ambientais ou emocionais (há, inclusive, estudos recentes que relacionam o uso da maconha com o desencadeamento da doença).

Não existe um curso típico da esquizofrenia devido à grande sintomatologia apresentada, que varia de indivíduo para indivíduo. Somente 5% dos pacientes apresentam um surto na vida, e a maioria experimenta vários surtos, principalmente no início da doença. A variabilidade da evolução encontrada independe dos sintomas apresentados no início da doença.



Idealmente o atendimento de pacientes que estão vivendo o primeiro surto deveria se dar em locais especializados.

Existe um intervalo de tempo entre o surgimento dos sintomas e a procura pelo tratamento. Este tempo pode influenciar no prognóstico. A demora na procura do tratamento pode indicar um mau prognóstico, pois os sintomas tornam-se mais intensos, implicando em maior tempo de tratamento psicofarmacológico e com doses mais elevadas. Por isso é recomendada a criação de serviços em saúde mental destinados ao atendimento de adolescentes e jovens, os quais poderiam contribuir para detectar e tratar precocemente o primeiro surto da esquizofrenia.

O tratamento farmacológico no primeiro episódio da esquizofrenia consiste no uso de medicamentos antipsicóticos, chamados de neurolépticos.

Antipsicóticos ou neurolépticos são medicamentos inibidores das funções psicomotoras, que podem encontrar-se aumentadas em estados, por exemplo, de excitação e de agitação. Paralelamente, eles atenuam também os sintomas neuropsíquicos considerados psicóticos, tais como os delírios e as alucinações. São substâncias químicas sintéticas, capazes de atuar seletivamente nas células nervosas que regulam os processos psíquicos no ser humano e a conduta em animais.

Existem dois tipos de drogas antipsicóticas: os antipsicóticos típicos ou convencionais e os atípicos.

Os antipsicóticos típicos ou convencionais são antagonistas da dopamina e seu efeito resulta na diminuição dos sintomas positivos (delírios, alucinações, pensamento incoerente) e na produção de efeitos colaterais, principalmente os efeitos extrapiramidais, que têm como sintomas básicos transtornos dos movimentos como parkinsonismo (tremor, rigidez e bradicinesia), distonia e acatisia.  O uso prolongado e inadequado dos antipsicóticos típicos contribui para uma disfunção crônica e irreversível chamada discinesia tardia, que também é um efeito colateral extrapiramidal. Os efeitos colaterais desse grupo de medicamentos são um dos principais fatores que contribuem para a não-adesão ao tratamento psicofarmacológico.

A resposta a cada medicação é individual e a escolha do antipsicótico clássico pode ser feita de acordo com o perfil de efeitos colaterais e o risco do paciente para estes. Pacientes idosos, por exemplo, têm maior risco de complicações com os efeitos colaterais anticolinérgicos e com a hipotensão postural, sendo mais indicado o uso de um antipsicótico potente. E importante ressaltar que a associação de duas ou mais medicações antipsicóticas clássicas não potencializa o efeito antipsicótico, sendo tão efetiva quanto o uso de uma medicação isolada, enquanto os efeitos colaterais se somam. Desse modo, as associações devem ser evitadas, exceto quando se procura efeitos diversos, tais como sedação e, ao mesmo tempo, diminuição dos sintomas psicóticos.

Deve iniciar-se o tratamento com dose baixa, aumentando-a gradualmente, conforme a adaptação do paciente, até atingir dose ideal. A instalação do efeito antipsicótico dessas medicações demora algumas semanas, de modo que se deve esperar, no mínimo, 8 semanas antes de considerar que o paciente não respondeu ao tratamento. Existem preparações na forma injetável de alguns dos antipsicóticos, que podem ser usadas para conter agitação ou agressividade.

Os antipsicóticos atípicos ou recentes inibem receptores de dopamina e serotonina, melhorando sintomas positivos e ajudando no tratamento de sintomas negativos sem efeitos extrapiramidais significativos. O aumento de peso é o efeito colateral mais significativo desse grupo de medicamentos e deve ser acompanhado. Os principais medicamentos são a Clozapina, Risperidone e o Olanzapine.

Os principais medicamentos usados atualmente são a Clorpromazina e o Haloperidol:


Os antipsicóticos como a Clorpromazina e o Haloperidol são eficazes em mais de 80% dos pacientes com esquizofrenia, atuando predominantemente nos sintomas chamados produtivos ou positivos (alucinações e delírios) e, em grau muito menor, nos chamados sintomas negativos (apatia, embotamento e desinteresse).

A introdução dos neurolépticos no tratamento das doenças mentais, que se iniciou no final da década de 50, configurou a chamada Revolução Farmacológica e colaborou para o desenvolvimento de intervenções sociais e psicológicas no tratamento dos doentes mentais. A esquizofrenia é um dos principais problemas de saúde pública da atualidade, exigindo considerável investimento do sistema de saúde e causando grande sofrimento para o doente e sua família.  Apesar da baixa incidência, por ser uma doença de longa duração, acumula-se, ao longo dos anos, um número considerável de pessoas portadoras desse transtorno, com diferentes graus de comprometimento e de necessidades.

A intervenção no primeiro episódio do transtorno oferece uma oportunidade única no tratamento da esquizofrenia. Sabe-se que a demora na procura do tratamento tem uma influência fundamental no prognóstico do paciente, pois pode levar a uma ruptura significativa dos níveis psíquico, físico e da rede social do doente. O tempo de tratamento para obtenção da remissão do quadro agudo também aumenta à medida que se sucedem os episódios psicóticos.

Os antipsicóticos de nova geração vêm substituindo os demais, no tratamento do primeiro episódio esquizofrênico, devido à possibilidade do uso de doses mais baixas e, consequentemente, menores efeitos colaterais.

A Clozapina é o único antipsicótico de nova geração que não é recomendado para o início do tratamento, pois ele tem efeitos colaterais mais agravantes. O efeito adverso mais sério é a agranulocitose, que exige exames laboratoriais frequentes e precisa de um monitoramento semanal.

O tratamento farmacológico deve ser mantido, pelo menos, durante os dois primeiros anos, após o primeiro surto, para controlar uma recaída mais violenta.

Quando o paciente apresenta fobia social e ataques/transtornos de pânico, o tratamento farmacológico pode ser mantido com o objetivo de aliviar os sintomas.

O paciente e a família devem ser orientados sobre os perigos do uso/abuso de substâncias não prescritas e de altas taxas da medicação prescrita sem recomendação médica, para não debilitá-lo ainda mais.

O uso de antipsicóticos também é indicado como tratamento de manutenção, para reduzir o risco de recaídas. O tratamento de manutenção deve ser contínuo, devido ao risco maior de recaída com tratamentos com uso intermitente de medicação antipsicótica. A dose usada no controle do quadro agudo vai sendo reduzida gradativamente, ao longo de vários meses, até atingir a menor dose efetiva possível, em geral cerca de metade da dose utilizada na fase aguda. O tempo de manutenção da medicação deve ser de, pelo menos, 5 anos; após esse período, se não houver recaídas, é possível estudar a possibilidade de redução e eventualmente suspensão do antipsicótico.

Ressaltando que, todas essas decisões devem ser tomadas pelo psiquiatra e pela equipe responsável pelo paciente. A automedicação é algo muito perigoso, em especial quando de trata de medicamentos tão específicos como os antipsicóticos.

Pacientes com esquizofrenia geralmente têm pouca crítica da doença, deixando de aderir ao tratamento medicamentoso com muita frequência. Uma alternativa é o uso de medicação injetável de depósito (depot). A mudança de medicação oral para a de depósito não pode ser abrupta.

Cerca de 25% dos pacientes esquizofrênicos respondem insatisfatoriamente ao tratamento medicamentoso habitual. A persistência, seja de sintomas positivos seja de sintomas negativos, dificulta a utilização de abordagens psicossociais e prejudica a reintegração social do paciente.

Até o advento dos antipsicóticos, pacientes viviam muitas vezes confinados em sanatórios em decorrência da falta de recurso terapêutico adequado. Na década de 50, após o impacto e grande entusiasmo diante dos benefícios decorrentes da propagação do uso desses medicamentos no tratamento da esquizofrenia, ocasionando melhora e controle dos sintomas, possibilitando alta hospitalar e retornar ao convívio social, constatou-se que os doentes, uma vez melhorados, tendiam a tomar irregularmente o medicamento ou até mesmo a interrompê-lo. Em consequência, recaídas e reinternações passaram a ser comuns.


Tornou-se evidente que esses agentes atuavam na fase aguda ou de exacerbação aguda, mudavam intensamente as manifestações e o curso da esquizofrenia, sem, entretanto, curá-la. A partir desta constatação, a estratégia terapêutica preconizada passou a ser a continuidade da medicação para prevenção de novo episódio. Para facilitar o seguimento e a regularidade do tratamento, tanto pelo paciente quanto pelos familiares, procurou-se desenvolver um antipsicótico com efeito suficientemente prolongado que permitisse ampliar o intervalo entre as administrações e sem perda da atividade terapêutica.

Pouco tempo após terem sido feitas estas considerações, foi realizado estudo em animais e apresentada a primeira publicação sobre os resultados clínicos obtidos com o uso do enantato de flufenazina (ação de 15 dias) em 147 doentes. Os resultados destas investigações estimularam o desenvolvimento de outros antipsicóticos de ação prolongada, por exemplo, palmitato de pipotiazina (piportil L4) e haloperidol decanoato (haldol decanoato) com ação de 30 dias.

Uma nova injeção, aplicada mensalmente, promete facilitar o tratamento dos pacientes com esquizofrenia. Aprovada no ano passado (2011), pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a injeção de palmitato de paliperidona, já está à venda e apresenta efeitos colaterais reduzidos em relação às drogas utilizadas atualmente, com a vantagem de dispensar a ingestão diária de vários comprimidos, o que evita que os pacientes desistam do tratamento, um dos problemas que mais prejudicam o controle dos sintomas.

As vantagens em relação aos tratamentos tradicionais são nítidas. A principal é que a pessoa não precisa tomar o medicamento todos os dias, o que combate um problema muito comum entre os pacientes de esquizofrenia: o abandono do tratamento.

O ideal é que o controle dos sintomas seja feito com remédios, mas que a pessoa também faça terapia e seja acompanhada por um psiquiatra, um psicólogo, um enfermeiro e um terapeuta ocupacional, de maneira que recupere suas habilidades sociais, consiga interagir com outras pessoas e tenha qualidade de vida.







Fontes: 
http://antipsicoticosatipicos.blogspot.com.br/
http://www.integrativetherapy.com/pt/integrative-psychotherapy.php
http://www.rcmpharma.com/actualidade/medicamentos/14-02-12/cientistas-descobrem-como-antipsicoticos-podem-provocam-obesidade-
http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=213
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692003000300012&lng=pt&nrm=iso
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v40n2/18.pdf
http://www.scielo.br/pdf/ape/v19n3/a15v19n3.pdf
http://www.marimar.com.br/medico/esquizofrenia.htm
http://www.gazetadopovo.com.br/saude/conteudo.phtml?id=1220502&tit=Esquizofrenia-ganha-nova-medicacao
http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=268

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Insanamente louca por tudo que envolve a relação linguagem-cérebro-mente.... Apaixonada esposa de Rafael, estudante do último ano de Medicina e futuro Médico da Família.. Residente em Cuiabá-MT, desde 2007, onde conclui minha graduação em Letras/Inglês, na UFMT, em 2011.. Orgulhosa filha de Marineide Dan Ribeiro, mais conhecida como Márcia ou Grega.. Futura mestranda da UNICAMP/Campinas-SP...

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